quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Como toda criança brasileira que se preze, Rodrigo Tadeu Guerra Bueno, jogou muito futebol, e nesta brincadeira quase virou atleta profissional, porém, sentia-se mais a vontade fazendo outra coisa, jornalismo. Assim, formou-se em jornalismo na PUC-SP e depois, estudou educação física na USP. Trabalhou dois anos como assessor de imprensa e a partir de 1995 deu início à longa jornada na “Grande Imprensa”: Abril, Folha, TV Cultura, ESPN, Fox...

Em entrevista ao blog falou de tudo: Futebol Brasileiro, Futebol Inglês, Seleção Brasileira, Copa de 2014, Neymar, polêmicas e muito mais, confira:

RB. Diga-nos um jogo e um jogador inesquecível na sua carreira. Você acha que este jogador ainda existe na Premier League?

Falando apenas do futebol inglês, um jogo que comentei  e que foi marcante para mim, por várias razões, foi o 6 a 1 do Manchester City no Manchester United no Old Trafford. Mas todos os jogos daquela campanha invicta do Arsenal (2003/2004) foram especiais para mim. Foi naquela temporada que deu para perceber de vez que a Premier League tinha virado uma mania, uma sensação no Brasil. Até por isso, era um prazer ver o Henry desfilando naquele período. Acho que ele ajudou demais a mudar a imagem do futebol inglês, muitos passaram a ver no campeonato um espaço para craques refinados, para um futebol mais vistoso. O Van Persie hoje faz um pouco o papel do Henry (mais quando estava no Arsenal talvez). No entanto, eu curti muito o Cantona e o Giggs na Premier League, são dois símbolos dessa nova fase moderna do futebol inglês. O Giggs ainda está na ativa e há sempre um ou outro candidato a Cantona (às vezes o Rooney), mas nenhum tão figura quanto ele. Foi um prazer enorme crescer como comentarista junto com o Campeonato Inglês no nosso país.

RB. Com tantas contratações que deram certo nesta temporada como Berbatov (Fulham), van Persie (Man. Utd.), Oscar e Hazard (ambos do Chelsea) e Dempsey (Tottenham), qual destes, você acha que será a mais importante no fim do campeonato?

A tabela de classificação e a tabela da artilharia apontam para o Van Persie. Não só o Man Utd vai brigar firme pelo título como ele brigará de novo para ser o goleador máximo. E, em contrapartida, é bem possível que o Arsenal não fique entre os quatro primeiros, o que seria uma novidade e tanto na era Arsène Wenger. Por tudo isso, acho que a ida do Van Persie para os Red Devils será (já foi) a contratação mais importante do campeonato.


RB. Com a repetição de erros e escândalos recentes entre os árbitros não só ingleses, mas de todo o mundo, o que você acha que ainda falta para os homens do apito? É a favor do uso da tecnologia?

Tecnologia. Sou completamente a favor do uso do vídeo, entre outras coisas, para reduzir os erros de arbitragem em lances capitais especialmente. É a única solução.

RB. Com o grande equilíbrio e evolução das equipes da terra da rainha, onde você acha que a briga por posições vai ficar mais acirrada?

Nesta temporada, a briga pelo quarto lugar vai ser bastante acirrada, acho que essa deve ser a grande mudança em relação às últimas temporadas. Na rabeira da tabela, também acredito numa briga intensa, pois aposto numa recuperação do QPR, assim como aconteceu um pouco com o Southampton. E a camisa pesada do Aston Villa corre sério risco.

Na Champions League temos: Manchester United e Arsenal em uma situação confortável, já o Manchester City amarga a última posição do grupo apesar de ser o atual campeão da Premier League, o que ainda falta na equipe de Mancini?

Um pouco mais de sorte na hora do sorteio seria algo bom para o Man City. Porém creio que ainda falta para o clube como um todo mais experiência internacional, vivenciar de forma melhor jogos contra outra escolas, outras situações. Mancini precisa mostrar mais resultados nesse sentido, não está conseguindo aproveitar bem seu poderoso elenco na competição que é a mais badalada da Europa. A própria torcida do City talvez não esteja tão ambientada ainda com os grandes confrontos internacionais, é uma outra pegada. O Chelsea custou a triunfar na Champions, o Arsenal então até hoje procura encontrar esse caminho europeu.

RB. A era Wenger como todos sabem, já teve momentos bem agradáveis, como por exemplo, conquista do título invicto da Premier League, jogadores memoráveis, entre outros, agora a torcida está perdendo a paciência com o francês, você acredita que a relação entre o treinador e os gunners tenha chegado ao fim?

Eu acho que ele precisa se reciclar. Creio que poderia ficar mais uns dez anos nos Gunners, mas admitindo mais a presença de craques consagrados, de jogadores de nome, às vezes sendo mais flexível, gastando mais o dinheiro que o Arsenal tem, tornando seu time mais competitivo e firme nos jogos mais importantes, decisivos. O Arsenal não pode virar apenas um time que joga leve e solto, uma equipe simpática e vistosa. Pode continuar sendo assim, mas com mais força, mais contundência, com mais conquistas. Nem sempre dá para ganhar uma Premier League com um futebol encantador e de forma invicta. Hoje, aliás, não dá para ganhar uma Premier League sem fazer investimentos pesados, pois a concorrência é enorme.

RB. Com Neymar apresentando atuações cada vez mais surpreendentes, surgiram boatos nestas últimas semanas que o City irá fazer de tudo para trazer o craque santista já em janeiro, falam-se até em £ 50 milhões, você acha que é um investimento válido para um time que tem atacantes de alto nível como Agüero, Tevez e Ballotelli?

Acho que o investimento pesado no Neymar é válido. O time europeu que o levar fará um grande negócio, Neymar hoje só está atrás de Messi e Cristiano Ronaldo em poder de decisão. E tem carisma para ser um fenômeno de marketing mundial, como os Ronaldinhos e como Kaká. No caso do City, sempre é discutida a possível saída de Tevez e de Balotelli. Com a chegada de Neymar, eles poderiam ser liberados eventualmente.


RB. Quais atletas que atualmente jogam no futebol brasileiro se adaptariam bem ao futebol inglês?

Acho que o futebol inglês mudou tanto, ficou tão globalizado, que não tem mais esse tal perfil de jogador para a Inglaterra. Seria normal ouvir no passado que algum cara bom no jogo aéreo cairia bem na Inglaterra, hoje isso não é tão significativo. Há quem veja mais espaço para jogadores de velocidade, como era o Juninho Paulista, ou para jogadores que aguentam bem o contato físico, como volantes pegadores. Hoje, os goleiros brasileiros, os laterais que marcam bem e outros atletas “comuns” têm espaço na Premier League. Não é preciso ser um Neymar ou um Lucas ou um Oscar ou um Ganso para chegar ao futebol inglês. As portas se abriram para todos. Se fosse pensar nesse tal perfil de jogador para a Inglaterra, talvez indicasse o Leandro Damião, do Inter, mas, como falei antes, qualquer um tem condição de ser útil lá.

RB. Hoje temos vários jovens jogadores ingleses bastantes renomados e pretendidos no mundo da bola apesar da pouca idade, você acha que toda essa pressão é boa ou ruim? Por quê?

Não vejo ainda tantos jogadores ingleses jovens renomados assim. A Premier League mudou regra recentemente para aproveitar mais o talento local. Os clubes ingleses ainda precisam evoluir na formação de atletas, estão atrás de clubes de outros países, não à toa importam profissionais do Barcelona, por exemplo, para melhorar nisso. Acho que os jovens jogadores ingleses são hoje sim mais pressionados porque há luta por trabalho é maior, assim como a exigência. Isso é bom. Há alguns anos discutiam a crise dos goleiros da Inglaterra, só arqueiros estrangeiros eram valorizados. Pois o Hart evoluiu muito nas últimas temporadas. É hoje um dos melhores da posição na liga e titular da seleção inglesa. Ele cresceu com a exigência da Premier League, mas ainda parece ser uma exceção. Walcott não evoluiu como se esperava, Wilshere ainda é uma esperança e por aí vai.

RB. Como você acredita que a seleção da terra da rainha chegue para a disputa da Copa do Mundo de 2014 no Brasil? Quanto a Neymar, Lucas, Oscar e companhia?

A Inglaterra terá problemas até mesmo para se classificar. Os craques dos últimos tempos já estão em fase decadente. São os casos de Lampard e Gerrard, em especial. Ainda há resquícios de problemas de relacionamento, como o imbróglio envolvendo Terry e Ferdinand por conta de racismo. Os ingleses vivem período de transição e não estão entre os favoritos. No Brasil, onde já tem um histórico de fracasso épico (1950), encontrarão um clima desfavorável por conta do calor, muito possivelmente. Não vejo muitas chances de a Inglaterra, cuja última troca de técnico foi mais para tapar um buraco, fazer um bom Mundial em 2014.


RB. Quais seleções são as favoritas para a Copa do Mundo no Brasil?

Espanha, em primeiro lugar. É ainda a seleção a ser batida. Porém acho que os times sul-americanos farão uma grande Copa em geral, com destaque para a Argentina e o Uruguai, se esse chegar a 2014 mesmo, além da revigorada Colômbia. Nossos vizinhos estão acostumados a jogar aqui, conhecem nossa cultura e têm a história a favor, não se intimidarão nem terão muitos problemas de adaptação como os europeus (a Argentina ainda contará com Messi numa busca frenética por sucesso em uma Copa). A Alemanha será competitiva como sempre, mas não será fácil para ela triunfar nesta Copa, e ela tem fraquejado na hora H com as últimas gerações. O campeão sairá desses times ou do Brasil, que certamente chegará longe.

RB. Como você enxerga este trabalho negativo feito pelo treinador Mano Menezes? Quem seria o treinador ideal para a seleção canária?

O trabalho de Mano foi decepcionante, acho que ele tinha que ter saído faz tempo. Quando passou o pior momento dele, puxaram o tapete do cara. Depois dessa decisão política e dessa mudança de rota, eu teria contratado o Guardiola, pois só ele neste momento poderia resgatar o futebol-arte romântico que os torcedores brasileiros tanto gostam. Não acho que a seleção brasileira tem a obrigação de ganhar, acho que tem a obrigação de tentar jogar bem, de criar uma empatia com seu povo, de ser uma extensão dele em campo, de carregar uma identidade nacional. Com Felipão e Parreira, o que se buscou foi o futebol de resultado. A obrigação para eles é ganhar, seja de que forma for. Talvez consigam. Eu não curti, a CBF perdeu uma chance histórica de apostar no Guardiola e resgatar com essa atitude a valorização da qualidade do jogo, algo que se perdeu há muito tempo entre os técnicos brasileiros.

RB. O que falta para o futebol brasileiro chegar ao patamar do futebol inglês?

Muita coisa. É preciso ter uma liga independente que se venda e se faça melhor. Para isso, é preciso mexer no calendário, a liga nacional tem que tomar toda a temporada, os Estaduais têm que ser enxugados. Eu transformaria os Estaduais em copas, como a Copa da Liga da Inglaterra, com os grandes entrando no final. Há várias formas de enriquecer o futebol nacional, uma é melhorando os estádios, e isso acontecerá bastante por causa da Copa de 2014. Deveremos ter uma melhora na média de público no país em breve, algo que aconteceu na Alemanha depois da Copa de 2006. Eu aumentaria o limite de estrangeiros por time, acho que a presença maior de estrangeiros melhora os elencos, torna o Brasileiro mais atraente. Como a economia brasileira é a melhor do continente, é fácil para os clubes brasileiros tirar reforços e bons jogadores de clubes dos países vizinhos. Os times brasileiros passariam ainda mais a dominar as competições continentais. Com um calendário mais racional, os clubes brasileiros poderiam excursionar mais, internacionalizar mais as suas marcas. E não perderiam tanto seus principais jogadores para seleções em dias de partidas oficiais. Acho que deveriam suspender atletas após quatro ou cinco cartões amarelos no Brasileiro, como acontece em outros campeonatos nacionais de pontos corridos. Isso desfalcaria menos as equipes. As leis deveriam ser mais rigorosas no combate à violência, vândalos e torcedores violentos deveriam ser presos de verdade menos e deveriam ficar impedidos de ir aos estádios. A maioria dos jogos deveria acontecer em horários mais adequados, deixando apenas algumas partidas da TV aberta em horários mais desfavoráveis. É preciso mudar a arbitragem, deixar o jogo correr mais, acabar com as faltinhas e as simulações em série. É preciso oxigenar bastante o tribunal  esportivo, torna-lo mais rápido e lógico. Tem mais um monte de coisas, quando eu assumir a presidência da CBF em 2015 eu cuido de tudo isso.


RB. Como você se interessou pelo jornalismo? O que você diria a jovens que sonham em serem jornalistas?

Sempre gostei de escrever. E sempre gostei de esportes. Resolvi juntar as duas coisas. Só digo uma coisa a quem quer ser jornalista e a quem quer ser qualquer coisa: corram atrás de seus sonhos, estudem, batalhem, busquem a felicidade no que vão fazer, no que vão trabalhar.

RB. Na sua vida quando você decidiu fazer jornalismo e entrar na profissão de jornalista esportivo, muitas pessoas o criticaram por você fazer essa escolha?

Na faculdade, eu era uma exceção ao abraçar o jornalismo esportivo. Apenas eu e mais alguns poucos amigos nos orientamos mais nesse sentido. E curiosamente esse pequeno grupo de amigos mais ligado ao esporte conseguiu bom destaque na carreira. Não era criticado por preferir o esporte, mas às vezes não fui tão valorizado como poderia ser, isso já na faculdade. Às vezes há esse pensamento pouco esportivo mesmo nos grandes jornais e TVs. Há quem veja o jornalismo esportivo como algo menor, menos importante, menos relevante. Eu nunca vi dessa forma. Poderia trabalhar sem problemas em qualquer outra editoria ou em qualquer área do jornalismo, mas sou muito mais feliz cobrindo esporte.

Mais informações sobre o blog no Twitter @RivalBritanica

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